Por Carlos Bezerra Jr
O assunto é inevitável, não é? Ninguém fala em outra coisa a não ser em “Tropa de Elite”, o filme de José Padilha, que, segundo o refrão da música-tema e da manchete de uma conhecida revista, “pegou geral”. Pois é, assisti ao filme pensando no porquê disso. Por que só se fala na história do capitão Nascimento (Wagner Moura)?Engraçado que o filme estreou debaixo de eventos midiáticos favoráveis, como o debate em torno do roubo do relógio rolex do apresentador Luciano Huck, com direito a artigo-poesia de Ferrez e a muitos leitores irados. As cópias piratas (ou pré-lançamento?) ainda acabaram ajudando na promoção.Descontado isso, o filme é bom. Não. O filme é excelente. Digo tecnicamente: belas imagens, fotografia impecável, roteiro brilhante, atores em estado de graça. Não é obra-prima, na minha modesta opinião. Há cenas de tortura demais, algumas insuportáveis. A julgar pelo filme, sufocar o suspeito com uma sacola de plástico não é último recurso dos policiais para tentar arrancar alguma informação dele. É primeiro.O maior mérito de “Tropa de Elite”, para mim, é a objetividade: defende brilhantemente a tese de que a maconha e a cocaína consumidas pela classe média financiam a violência urbana das cidades brasileiras, que por trás da polícia corrupta e do traficante sanguinário, há carreiras e baseados.Não achei o capitão de Moura o fascistóide que pintaram na imprensa. Além disso, para mim, o ponto de vista do filme de Padilha não é somente o da polícia, como escreveram por aí. A produção pode dar margem à interpretação de que o filme defende o Estado policial por mostrar a dura realidade dos morros cariocas.Mas também é assim: pelo menos no elogio à face fascista de “Tropa de Elite” e no episódio de Huck, que cobrou as autoridades o destino dos seus impostos após ter sido roubado, uma coisa é certa: a classe média e a elite brasileiras estão saindo do armário. Não é novidade que a torcida da elite e da classe média é para que o Matias dê um tiro na cara de um Baiano todos os dias, mas parece que essa bandeira está cada vez mais evidente. Isso é ótimo. Fica muito mais fácil discutir violência e pobreza quando os papéis estão claros.Eu só não acho que o argumento de Ferrez é forte o suficiente para enfrentar esse debate. Dizer que o “correria” que assaltou Huck é um filho de mãe alcoólatra, desempregado e sem opção é entrar mal em campo. A maioria dos pobres é parte disso e não rouba nem trafica drogas. Da mesma forma que uma minoria dos policiais é osso duro de roer como Nascimento.
Fonte: Blog do Carlos Bezerra Jr