Absolvição de Renan é mau exemplo para o paísO deputado Edson Aparecido (PSDB/SP) acredita que o Parlamento brasileiro deu um mau exemplo ao país ao salvar o mandato do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) na noite de ontem. Ele apontou a existência de "um nítido acordão" entre senadores do PT e da base aliada com a bancada peemedebista, o que resultou em 48 votos contrários, 29 a favor e três abstenções ao relatório que pedia a cassação do mandato do peemedebista por quebra de decoro parlamentar. Para o parlamentar, está muito claro que houve uma troca de favores entre o presidente Lula e o seu principal aliado no Congresso Nacional, Renan Calheiros.
Segundo Aparecido, a urgente necessidade de prorrogar a CPMF até 2011 levou os governistas a colaborar com o esquema, e, ao mesmo tempo, garantir apoio ao imposto do cheque dentro do PMDB. De acordo com o parlamentar, o povo brasileiro perde duplamente, "pois mais uma vez o ex-presidente da Casa é absolvido e esse tributo pesado e danoso corre o risco de ser prorrogado". "O mais grave é que a impunidade sai vitoriosa novamente", ressaltou o tucano.
Licenciado do posto desde o fim de outubro, Renan renunciou à Presidência pouco antes da sessão de cassação. Ele foi acusado de usar "laranjas" para comprar um grupo de comunicação em Alagoas. A sessão que analisou o processo foi aberta e durou cerca de cinco horas. Porém, a votação foi secreta, o que, de acordo com tucanos, beneficiou o peemedebista.
O relator do processo no Conselho de Ética da Casa, Jefferson Péres (PDT-AM), apontou sete indícios de que o senador quebrou o decoro parlamentar ao firmar sociedade com o usineiro João Lyra para a compra do grupo de comunicação. O deputado Emanuel Fernandes (PSDBSP) endossou as palavras do colega. "É certo que a absolvição de Calheiros teve a mão do governo. Os indícios giram claramente em torno da prorrogação da CPMF", concluiu.
PSDB questionará arquivamento de processos contra Renan
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), anunciou nesta quarta-feira que o partido irá recorrer, com apoio do Democratas, ao plenário do Conselho de Ética da Casa contra o arquivamento sumário de dois processos de cassação que ainda correm no colegiado contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). A decisão de enterrar as representações contra o peemedebista foi tomada hoje, de forma unilateral, pelo presidente do Conselho, senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO). "É obvio que foi uma atitude arbitrária, uma decisão monocrática, que não corresponde aos anseios do PSDB e, tenho certeza, do Democratas também", disse Virgílio.
No processo de número quatro, Calheiros é acusado de ser o cabeça de um esquema de caixinha que seria alimentado por propinas cobradas em ministérios e órgãos públicos comandados pelo PMDB. O operador, segundo denúncias da imprensa, seria o lobista Luiz Cláudio Garcia, pai de uma funcionária do peemedebista. Já no quinto processo, protocolado por tucanos e democratas, Renan é acusado de montar um esquema para espionar dois senadores favoráveis à sua cassação: Marconi Perillo (PSDB/GO) e Demóstenes Torres (DEM-GO).
Em plenário, o ex-governador de Goiás classificou a atitude de Quintanilha de "precipitada" e pediu a imediata revogação do ato.
Obstrução governista desmoraliza Parlamento
O deputado Emanuel Fernandes (PSDB/SP) convocou os deputados governistas a assumirem que paralisaram os trabalhos da Câmara para ajudar a gestão Lula a aprovar a prorrogação da CPMF, impondo um achaque de R$ 40 bilhões aos bolsos da população. O tucano acusou os aliados de agirem pela "desmoralização" da Casa. "Eles devem uma explicação à população. Desde a semana passada, quando chego à Câmara, tenho a impressão de que há uma placa na entrada com os dizeres: estamos há oito dias sem votar. É um desrespeito. A Câmara está sangrando aos olhos da opinião pública por uma culpa que não é nossa. A oposição está aqui, mas o governo não é sério, não respeita o Parlamento", afirmou.
Fonte: Agência Tucana